Nas tardes da minha infância, onde tudo era moreno demais, aquele menino se misturava com às árvores e os meus planos se misturavam com ele. Planos precoces e platónicos. Me lembrei, então, (um pouco mais) crescida, daquela praça de um vasto interior em frente a outra, tão diferente e de diferentes realidades, condizentes, talvez - mas por quê? -, com a minha “maturidade”.
Uma mulher de rosto cansado, mas cantante, varre a única cor da praça acinzentada. À frente dos olhos, quase não servindo a ninguém do seu costume de antigamente: a Praça. Percebia, então, o difícil e feio fato de que muitas praças de uma grande cidade deste país prestam para se passar rapidamente ou olhar ao longe, mesmo assim é um óptimo horizonte.
Muitas vezes, não tenho a coragem de enfrentar a tristeza febril da realidade dos mendigos, dos loucos, dos meninos de rua, dos perigos vários de violência, dos pedidos de esmola, dos vendedores sem coração nem desconfiômetro de insistência, que perturbam a paz de quem procura as praças para seu descanso e lazer, vendendo histórias que muitas vezes não queremos ter.
Eu, vez por outra, as evito e me vejo longe delas. Quando pensei nisso, eu e aquela mulher, éramos muito em comum: a compulsividade de varrer tudo e todos e o desejo de ter a tranquilidade e o canto dos pássaros novamente, o som de crianças brincando. Eu, que brinquei (e brinco) tanto em praças na minha infância, namorei e imaginei (e imagino) tantos namoros sob o cenário e pureza de uma praça, que vi tantas senhoras tagarelando suas histórias, meninos e meninas brincando, agora via, sob esse aspecto, uma praça doente.
Por favor, não varra as flores, elas não são a sujeira que suspeita. Noutros lugares longínquos que não este, tantas flores e folhas formam tapetes e cobrem as calçadas, e tantas praças magníficas tornam-se mais belas e aconchegantes. Se tantos podem usá-las para tudo, que pelo menos as flores e as folha sejam sua cor e seu complemento. Que sejam de flores nossos tapetes. É preciso varrer outras lacunas que se esgueiram na perversão e na crueldade dos homens. Na violência que nos afunda, na corrupção que nos mata, na passividade que nos oprime e não nos desperta confundindo-se com pacificidade. É preciso não curvar a dignidade. Nesta confusão que fazemos entre orgânico e inorgânico, as árvores são a nossa maior ajuda. Deixe as flores e folhas perto de nós, sente-se junto de mim e eu lhe contarei outras histórias ~ Ouço o beijo da primavera, cada pétala, cada gesto dizendo um “Sim”.
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Minha perfeição de menina «3
Por Vanessa V., Às quarta-feira, maio 28, 2008
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